O que é
Também chamada de hipersialose, ocorre quando a produção de saliva excede a habilidade do indivíduo em transportá-la ao estômago.
A saliva exerce papel importante na lubrificação, digestão, imunidade e manutenção da homeostase corporal. A produção diária de saliva é da ordem de 500mL a 2L, e o fluxo salivar de indivíduos normais é variável ao longo do dia, sendo menor pela manhã, aumenta à tarde e é quase nulo à noite.
Tipos
A sialorreia pode ser primária, como resultado de hipersecreção das glândulas salivares, mas esta ocorrência é rara. A sialorreia secundária está relacionada a falha neurogênica na coordenação dos músculos da língua, palato e face que atuam na fase oral da deglutição, com a perda do controle da saliva na cavidade oral.
Incidência no Brasil
Os estudos sobre sialorreia apresentam baixas taxas de evidência e/ou controle do desenho metodológico, em decorrência dos desafios inerentes às populações estudadas, além de limitações adicionais representadas por polifarmacoterapia, comorbidades, oscilações cognitivas, entre outras. A atual prevalência da sialorreia é desconhecida. Em pacientes com paralisia cerebral ocorre em 37-50% dos casos. Em outras doenças, especialmente neurológicas degenerativas, esta frequência pode chegar a 80%.
Causas
Podem ser anatômicas, como incontinência labial, problemas ortodônticos, língua volumosa, má oclusão dentária, obstrução nasal, predispondo à respiração oral, postura inadequada de cabeça e pescoço, com hiperflexão cervical. As causas decorrentes de disfunções neuromusculares e/ou sensoriais e quadros neurológicos crônico-degenerativos incluem principalmente encefalopatia crônica não progressiva, paralisia cerebral, encefalopatia pós-anóxica, Esclerose Múltipla, Parkinson, ELA, quadros agudos, como AVC e TCE. A hipersecreção salivar também pode ocorrer por inflamações (cáries, infecção da cavidade oral, surgimento de dentes), DRGE, hérnia hiatal, úlcera duodenal, helmintíases, corpo estranho no esôfago, exposição à toxinas (ex.: mercúrio, iodo, chumbo), neoplasias e efeitos colaterais de medicamentos.
Principais sintomas
A sialorreia leva à babação ou eliminação pela cavidade oral, chamada sialorreia anterior. A sialorreia posterior, que é o excesso de saliva na faringe e/ou laringe pode permear e invadir as vias aéreas inferiores e aumentar o risco de pneumonia aspirativa. O excesso de saliva provoca prejuízo da função mastigatória, interferência na fala, infecções periorais, mucosites, perda de fluidos, eletrólitos e proteínas. Gera impactos negativos físicos e psicossociais, influencia na integração social e provoca subestimação intelectual.
Diagnóstico
O diagnóstico é essencialmente clínico, através de anamnese detalhada, exame clínico da cavidade oral, posição da cabeça e pesquisa dos pares cranianos. O exame da avaliação endoscópica da deglutição por fibra óptica (FEES) auxilia no diagnóstico através da observação da fase orofaríngea da deglutição, sob demanda para avaliar a eficiência da deglutição de saliva e/ou secreções e alimentos. Através de visão endoscópica direita, possibilita quantificar a estase salivar, avaliar as características da saliva, localização, volume e viscosidade para ajustar o tratamento adequado e avaliar a melhora clínica após instituído o mesmo. O profissional mais habilitado para tal interpretação é o médico Otorrinolaringologista, que realiza o exame de rotina.
Tratamento
O nível de evidência e baixo índice de efeitos colaterais adversos indicam que a administração de toxina botulínica em glândulas salivares é a forma mais eficaz de tratamento de sialorreia. Fototerapia com técnicas de terapia motora-oral como posicionamento do lábio, língua, mandíbula, postura de cabeça e pescoço, mudança de comportamento através de biofeedback com eletroestimulação auxiliam o tratamento.
Medicamentos como drogas anticolinérgicas são eficazes, mas os efeitos secundários limitam a utilização. Agentes tópicos são possivelmente eficazes, porém os efeitos são de curta duração. Utiliza-se a toxina botulínica do tipo A, aplicada no parênquima das glândulas salivares, parótidas e submandibulares. A indicação é para adultos ou crianças.
Os efeitos que podem advir são edema e hematoma no local da injeção, entre outros, mas são raros e gerenciáveis. É contraindicada em pacientes com intolerância à droga ou portadores de Miastenia gravis. O volume salivar diminui em até 70%, sem alteração da composição salivar ou contagem bacteriana cariogênica. A taxa de resposta é alta, com melhora dos sintomas na primeira semana após a aplicação em cerca de 80% dos pacientes, sendo o pico de ação após duas semanas. O tempo de duração da toxina é amplamente variável na literatura, entre 3 e 7 meses, com uma média de duração de 4 meses.
Fatores de risco
No ambiente hospitalar a aspiração salivar crônica compromete a evolução dos pacientes, devido principalmente a falhas de extubação e infecções pulmonares. O processo de reabilitação fototerápica também é prejudicado, uma vez que os estímulos dentro da boca aumentam a salivação, dificultando o manejo dos pacientes hiper-secretivos e muitas vezes inviabilizando a terapia.
Prevenção
Não há como prevenir a sialorreia decorrente de quadros neurológicos graves ou avançados com os recursos existentes. Mas um controle rigoroso com exame de FEES e avaliação clínica periódicos auxiliam na avaliação do melhor momento para reintervenção quando o volume de saliva aumenta. O intervalo para reaplicação da toxina botulínica sugerido varia entre 2 a 4 meses. A injeção da toxina botulínica para controle da sialorreia é uma excelente opção terapêutica. Trata-se de procedimento seguro e efetivo, bem tolerado pela maioria dos pacientes.
Fonte: Hospital Israelita Albert Einstein